quarta-feira, 7 de agosto de 2013

JOAQUIM COSTA (3) - A Moura Salúquia


Já aqui tive oportunidade de falar de Joaquim Costa, poeta mourense, cujo 1.º centenário do nascimento se comemora precisamente este ano. Disse, inclusive, que o livro "Poesias", editado em 1982 pela Câmara Municipal de Moura, deveria sofrer uma reedição durante este ano, não só pelo simbolismo da data como também porque a primeira edição há muito estava esgotada.
Felizmente, a Câmara reeditou esse livro (para além da edição extra de uma pequena biografia do poeta, em banda desenhada, com texto e desenho de minha autoria, da qual falarei oportunamente) em Abril passado, por ocasião da 33.ª Feira do Livro e do XVIII Salão Internacional Moura BD.
Como forma de homenagem a este vulto da Cultura local, deixo-vos um dos melhores poemas de Joaquim Costa e que diz muito às gentes de Moura.
Apreciem-no porque é, de facto, um magnífico poema.

A Moura Salúquia

A lenda reza mais ou menos isto:
Salúquia na manhã do seu noivado,
Ao ver num estandarte a cruz de Cristo,
Compreendeu o fim do bem-amado.

Não quis viver, não pôde suportar,
Aquela mágoa, a maior da vida.
Era impossível resistir, lutar,
A filha do Islam fora traída.

Bráfama sucumbira na batalha,
Aruci-Vétus fora conquistada.
Nas chamas densas, fortes da fornalha,
Só divisava escombros e mais nada.

Triste destino o seu. Allah o quis
Assim tinha de ser. Num gesto belo
A pobre moura, essa moura infeliz
Subiu à Torre mais alta do castelo.

E despenhou-se. Em luto terminou
O dia alegre e bom dos esponsais.
Foi-se a princesa, foi-se e não voltou,
Ao seu Castelo não voltou jamais.

Mas resta o nome e a lenda encantadora
Que prende num enleio os corações...
Moura Salúquia, depois vila de Moura,
Vencendo o tempo, a morte, as gerações.