quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A MÚSICA QUE EU GOSTO (12) - INTI ILLIMANI (2) - Sirviñaco


Mais um bonito tema interpretado pelo extraordinário grupo chileno "Inti Illimani".
No post anterior ouvimos uma faixa do disco "Canto de Pueblos Andinos", gravado em 1975.
Um ano depois, os "Inti Illimani" gravavam "Canto de Pueblos Andinos II", de onde escolhi este "Sirviñaco".
"Sirviñaco", ou "Tanta quatu", era uma tradição dos povos nativos Aymara, estabelecidos desde a época pré-colombiana no sul do Peru, Bolívia, Argentina e Chile. Os Aymara contam, actualmente, com cerca de 2,5 milhões de pessoas e é o segundo mais numeroso, a seguir aos Quechua, com quase 15 milhões.
"Sirviñaco" consistia numa espécie de "união de facto" que se estabelecia entre dois jovens noivos, durante um certo período de tempo, de modo a prepara-los para um futuro casamento. Caso as coisas não resultassem, rapaz e rapariga poderiam separar-se e seguir caminhos distintos sem qualquer problema. Com a chegada dos espanhóis, a tradição foi - sem surpresa - proibida pela Igreja Católica.
A letra deste tema (que mistura expressões Aymara e Quechua com o castellano) é de Jaime Dávalo e a música foi composta por Eduardo Falú.
Deliciem-se com um dos mais belos temas dos "Inti Illimani":

Yo t'hei dicho nos casimos,
vos diciendo que tal vez;
sería bueno que probimos
m'a ver eso qué tal es.
Te propongo sirviñaco,
si tus tatas dan lugar
p'a l'alzada del tabaco
vámonos a trabajar.
T'hei comprarollita nueva,
en la feria 'e Sumalao,
es cuestión de hacer la prueba
de vivirnos amañaos.
Y si tus tatas se enteran,
ya tendrán consolación,
que todas las cosas tienen
con el tiempo la ocasión.
Y si Dios nos da un changuito
a mí no me ha de faltar
voluntad pa andar juntitos
ni valor p'a trabajar.
Te propongo como seña
pa' saber si me querís
cuando vas a juntar leña
sílbame como perdiz

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A MÚSICA QUE EU GOSTO (11) - INTI ILLIMANI (1) - Papel de Plata


Coleccionei, durante alguns anos, discos de música andina. Costumava comprar os discos (e ainda antes destes, cassetes de fita!) nas feiras e mercados, quando encontrava stands ou tendas de índios sul-americanos a vender os seus produtos (roupas, missangas, artesanato e, claro, discos de música andina). Hoje em dia, com a possibilidade de ouvir música através da internet, esse meu hábito passou a ser muito mais raro.
Devo confessar que, desde sempre, toda a cultura latino-americana me fascinou. Gostava mesmo de, um dia, fazer uma grande viagem por países como o Equador, o Perú, a Bolívia, o Chile... Enfim, é um sonho que provavelmente nunca concretizarei mas que me acompanha desde miúdo!
Enquanto concretizo, ou não, essa viagem, vou ouvindo a maravilhosa música daqueles povos.
Passados mais de 500 anos desde a chegada dos primeiros brancos ao continente americano, e apesar dos inúmeros crimes e atropelos cometidos sobre os índios, estes têm sabido sobreviver e manter vivas muitas das suas tradições. Uma dessas tradições é a música, com os seus instrumentos, os seus ritmos e as suas melodias únicas que me continuam a maravilhar de cada vez que os ouço.
O grupo que hoje vos proponho chama-se "Inti Illimani" (Sol Illimani, em idioma Aimará).
Proveniente do Chile, os "Inti Illimani" gravaram este disco, "Canto de Pueblos Andinos", em 1975. Hoje em dia, existem dois grupos com a mesma designação, sendo distinguidos como "Inti-Illimani Histórico" e "Inti-Illimani Nuevo".
Falaremos mais um pouco deste(s) grupo(s) em outra ocasião. Por agora, convido-vos a ouvirem "Papel de Plata", uma canção de amor, cuja letra, simples e bonita, vos deixo a seguir:

Papel de plata quisiera
plumita de oro tuviera
para escribir una carta
a mi negra más querida

Ay, palomita
ay, corazoncito,
hasta cuándo estaré
yo sufriendo.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

JOAQUIM COSTA (4) - Terceiro Epigrama


Passaram, anteontem, 100 anos desde o nascimento de Joaquim Costa.
No Cine-Teatro Caridade, o Grupo de Teatro "Carpe Diem", de Moura, assinalou a data da melhor maneira: declamando poesia.
Embora no início da sessão, Maria Eugénia Costa - filha do poeta - tenha afirmado que encarava este dia como um dia de alegria, a verdade é que a música, as imagens projectadas, os poemas declamados, a encenação e interpretação dos actores, fizeram deste um espectáculo emotivo do princípio ao fim.
Uma merecida e demorada salva de palmas recompensou o trabalho do Grupo - onde é justo referir a abnegação e o empenho neste projecto demonstrados pela encenadora Geninha.
A maioria dos actores do "Carpe Diem" é muito jovem, o que deixa no ar a legítima esperança de que a obra do poeta permanecerá entre as gerações mourenses vindouras.
Esta Sessão de Poesia tem uma segunda  e última apresentação agendada para o próximo domingo, dia 22, pelas 16:00 horas.
Deixo aqui um dos melhores poemas de Joaquim Costa, por sinal o último a ser declamado na sessão de anteontem pelo Grupo "Carpe Diem".


TERCEIRO EPIGRAMA

Vive a teu modo. Sê forte qual rochedo
Erguido frente ao mar.
Sorri às tempestades e nunca tenhas medo
Do vento que soprar.
Acredita em ti mesmo, constrói por tuas mãos o teu destino

E vive em cada hora a tua vida.
Não detenhas teus passos na subida
E sê humano para ser divino.
Os outros, os banais, os das palavras ocas,
Os que sabem sorrir e adular
E embriagam como o próprio vinho,
Esses, hão-de perder-se no caminho
E tu, hás-de ficar!


Epigrama (Gregoἐπί-γραφὼ, literalmente, "sobre-escrever"), é uma composição poética breve que expressa um único pensamento principal, festivo ou satírico, de forma engenhosa.
O Epigrama foi criado na Grécia Clássica e, como o significado do termo indica, era uma inscrição que se punha sobre um objeto - uma estátua ou uma tumba, por exemplo.
Os epigramas sobre as tumbas formaram uma classe à parte e se denominaram Epitáfios ou Epicédios, designando um poema engenhoso que tinha a característica de ser breve, para poder passar por rótulo ou inscrição.
A maioria dos epigramas gregos pode ser encontrada na Antologia Palatina. Além dos gregos, destacaram-se na composição de epigramas os romanos Catulo e Marco ValerioMarcial.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

DESENHOS ANIMADOS INESQUECÍVEIS (3) - "CRAC"



O filme que aqui vos trago hoje é para mim muito especial.
A partir do final dos anos 70 (e durante toda a década de 80), fui um assíduo espectador dos programas de Cinema de Animação apresentados por Vasco Granja, na RTP1.
Foi numa das mais de mil emissões(!) que esse programa teve que, um dia, visionei o "Crac" pela primeira vez. A história de uma cadeira de baloiço, contada sem legendas mas com uma inesquecível banda sonora ficou-me sempre na memória e com vontade de saber mais sobre esta autêntica obra de arte.
Só passados muitos anos voltaria a ter a oportunidade de visionar o "Crac". Numa conversa informal com Artur Correia - um dos nossos maiores autores de banda desenhada e cinema de animação - perguntei-lhe se se lembrava de um filme que contava a história de uma cadeira de baloiço. "É o Crac!" - disse-me, de imediato, o Artur, que, volvidos alguns dias, me enviou para casa um cd com este filme (e outros de sua autoria).
O "Crac" foi realizado por Frédéric Back, nascido em St. Arnuald, nas proximidades de Sarrëbruck (por esse tempo, território francês), a 8 de Abril de 1924. Emigrou, posteriormente, para o Canadá onde exerceu, com grande sucesso, a sua actividade como realizador de cinema de animação.
"Crac" traça a rápida transformação da sociedade do Quebéc, através da história de uma cadeira de baloiço.
Frédéric Back leva-nos de volta às ricas tradições, varridas pelas forças inexoráveis do progresso e da urbanização.
"Crac" é o som de uma árvore caindo, cortada para fazer uma cadeira e é, também, o som da cadeira enquanto balança. E pode ser, ainda, o som de uma fenda nas nossas vidas, quando a mudança acontece demasiado rapidamente.
Com este filme, Frédéric Back ganhou um merecido Óscar, em 1982.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

JOAQUIM COSTA (3) - A Moura Salúquia


Já aqui tive oportunidade de falar de Joaquim Costa, poeta mourense, cujo 1.º centenário do nascimento se comemora precisamente este ano. Disse, inclusive, que o livro "Poesias", editado em 1982 pela Câmara Municipal de Moura, deveria sofrer uma reedição durante este ano, não só pelo simbolismo da data como também porque a primeira edição há muito estava esgotada.
Felizmente, a Câmara reeditou esse livro (para além da edição extra de uma pequena biografia do poeta, em banda desenhada, com texto e desenho de minha autoria, da qual falarei oportunamente) em Abril passado, por ocasião da 33.ª Feira do Livro e do XVIII Salão Internacional Moura BD.
Como forma de homenagem a este vulto da Cultura local, deixo-vos um dos melhores poemas de Joaquim Costa e que diz muito às gentes de Moura.
Apreciem-no porque é, de facto, um magnífico poema.

A Moura Salúquia

A lenda reza mais ou menos isto:
Salúquia na manhã do seu noivado,
Ao ver num estandarte a cruz de Cristo,
Compreendeu o fim do bem-amado.

Não quis viver, não pôde suportar,
Aquela mágoa, a maior da vida.
Era impossível resistir, lutar,
A filha do Islam fora traída.

Bráfama sucumbira na batalha,
Aruci-Vétus fora conquistada.
Nas chamas densas, fortes da fornalha,
Só divisava escombros e mais nada.

Triste destino o seu. Allah o quis
Assim tinha de ser. Num gesto belo
A pobre moura, essa moura infeliz
Subiu à Torre mais alta do castelo.

E despenhou-se. Em luto terminou
O dia alegre e bom dos esponsais.
Foi-se a princesa, foi-se e não voltou,
Ao seu Castelo não voltou jamais.

Mas resta o nome e a lenda encantadora
Que prende num enleio os corações...
Moura Salúquia, depois vila de Moura,
Vencendo o tempo, a morte, as gerações.


domingo, 28 de julho de 2013

DESENHOS ANIMADOS INESQUECÍVEIS (2) - O INSPECTOR



O Inspector foi sempre um dos meus desenhos animados preferidos.
Eu adorava tudo nesta série: os personagens principais e o seu sotaque francês, os vilões (alguns deles autênticos achados), os gags, a música, os magníficos cenários... A esta lista poderia acrescentar ainda um pormenor importante: este foi um dos primeiros desenhos animados que vi a cores na televisão, há mais de trinta anos(!). E isso, para um miúdo que estava habituado a ver desenhos animados apenas a preto e branco fazia toda a diferença!
Esta série de animação nasceu em 1965, após o sucesso do filme "A Pantera Cor-de-Rosa" protagonizado por Peter Sellers que nele interpretava o papel de... Inspector Clouseau.
Os criadores da série foram os norte-americanos De Patie e Friz Freleng (os mesmo que, um ano antes, tinham criado a "Pantera Cor-de-Rosa"). A música foi escrita por Henry Mancini, o mesmo autor do famoso tema de abertura dos filmes da Pantera.
Como se vê, as duas séries de animação estavam como que "umbilicalmente" ligadas, chegando mesmo a ser apresentadas pequenas curtas-metragens do Inspector no programa televisivo "Show da Pantera Cor-de-Rosa". Havia, contudo, diferenças significativas entre uma e outra. A principal de todas era, sem dúvida, o facto de nos filmes da Pantera os personagens não falarem (houve apenas uma ou outra excepção que quebrou a regra). Isso propiciou que a  Pantera fosse um personagem "universal" (qualquer pessoa pode entender as histórias - basta visionar os filmes).
Já no Inspector as coisas eram diferentes. As histórias eram sempre narradas pelo próprio Inspector e todos os personagens falavam (alguns deles com aquele delicioso sotaque parisiense). Isso talvez tenha feito do Inspector um personagem menos popular.
Para mim, contudo, o Inspector terá sempre um lugar especial na minha lista de... desenhos animados inesquecíveis!

domingo, 23 de junho de 2013

A MÚSICA QUE EU GOSTO (10) - Baccara

O duo Baccara, formado pelas espanholas Mayte Mateos e Mendiola Maria, obteve o seu grande sucesso no ano de 1977. Tratou-se deste "Yes sir I can boogie".
Nessa altura, as Baccara ouviam-se, persistentemente, em inúmeras discotecas por essa Europa fora (onde brilhavam ao lado dos mais populares ídolos daquele tempo como os Abba, os Boney M ou Demis Roussos), mas, do alto dos meus 9 anitos, eu só aspirava a ouvi-las num pequeno transistor que me oferecera uma tia e, também, como música de fundo em feiras e mercados (nas pistas de carrinhos de choque ou nas barracas onde se vendiam cassetes e discos de vinil).
O tipo de música das Baccara era uma combinação de Disco, Pop e música espanhola que resultou num tremendo sucesso para estas duas "chicas" em grande parte da Europa. Chegaram mesmo a representar o Luxemburgo(!) no Festival Eurovisão da Canção de 1978.
Separaram-se em 1981 para seguirem carreiras individuais mas sem o mesmo sucesso.
Em 2005 gravaram uma versão deste êxito, com uma roupagem nova mas sabendo manter a essência de Baccala.
Hoje em dia, quando vou à feira, sinto uma estranha saudade da música das Baccara...

segunda-feira, 17 de junho de 2013

GOLOS INESQUECÍVEIS (2) - Watford - Leicester City 2012-2013


O golo que hoje recordamos diz respeito ao play-off de acesso à Premiere League (época 2012/13).
Este play-off é, todos os anos, disputado pelos clubes classificados entre o 3.º e o 6.º lugares (uma vez que o 1.º e o 2.º são promovidos directamente). Temos, portanto, quatro clubes a lutar pelo último lugar de acesso ao escalão máximo do futebol inglês, jogando num sistema de meias-finais (com jogos em casa e fora). Os vencedores destas duas eliminatórias encontram-se na final, em Wembley.
Neste caso concreto, tratava-se do segundo jogo da meia-final entre o Leicester City e o Watford.
O Leicester City tinha ganho por 1-0 na primeira mão e, neste segundo jogo, embora a perder por 2-1, estava em vantagem por via do golo marcado fora de casa (que vale a dobrar, em caso de empate no resultado global).
Já no último minuto do período de descontos, o árbitro marca um penalti a favor do Leicester. Todos esperam que o Leicester empate a partida e festeje a passagem à final do play-off. Mas eis senão quando o guarda-redes do Watford faz duas defesas extraordinárias e consegue deter o remate e a recarga do jogador azul de Leicester! A jogada continua e, entre os gritos de incentivo do público, os jogadores dos "Horns" (como é apelidada a equipa da casa) avançam com a bola, certos de que só terão mais esta possibilidade de marcar o golo que lhes falta. E, em 20 segundos, o Watford passa do Inferno ao Céu! Memorável para aqueles adeptos! Memorável para aqueles jogadores! Memorável para o futebol!
É isto que faz do futebol um desporto único!
Como nota final, resta dizer que o Watford acabou por não conseguir ascender à Premiere League, uma vez que perdeu na final do play-off frente ao Crystal Palace, por 1-0.
Mas este momento, terá valido - digo eu - um lugar na história a este simpático clube inglês...