quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

JOAQUIM COSTA (2) - Farmácia


Para comprovar que Joaquim Costa era poeta por convicção e boticário por obrigação, deixo-vos aqui um seu desabafo sob a forma de soneto: "Farmácia". Uma pérola, de entra as muitas que Joaquim Costa nos legou.


Nas sombras da botica todo o dia,
Sobre a "Farmacopeia" debruçado,
Eu sinto a sensação do condenado
Que sonha a liberdade e a luz do dia.

O meu anseio de sol e de alegria
Não m'o consente a vida - É-me vedado.
E o reino de beleza que hei sonhado
Só o possui a minha fantasia.

Talvez por isso sofro! É uma tortura
Passar os dias, curvo, na botica,
Entre frascos hostis, de expressão dura.

E nem ouso pensar, nem aprofundo
Porque me negam a esmola rica
Dum pouco desse sol que alegra o mundo.


(in "Poesias", de Joaquim Costa - Ed. Câmara Municipal de Moura - 1982)

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